sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Do Calar

Quando digo eu não falo
Quando penso eu não digo
Escondido, sozinho, fechado
Trancado sem chave ou segredo
Silencio a dor da ferida
Apago a chama, deixo escondida
As dores, amores, as cores
As flores, odores, sabores
Tudo fechado, cerrado
Assunto encerrado
Monólogo mudo e sem gestos
Sinais de fumaça na neblina
Voz átona e atônita
Livro aberto sem palavras

Grito surdo ecoa
Olhares cortam, rasgam
Ouço e vejo e calo
Sinto, consinto, não falo
As palavras surdas são ouvidas
Apenas por quem quer ouvir
E são claras e fortes
Sinceras, aço e mel
Palavras sem boca
Que são ditas sem som
Escrevo, estremeço, adormeço
Acordo ouvindo e calado
Tênue linguagem criptografada
Sublime subliminar mensagem
Tão evidente e sutil
Como um raio de sol da alvorada

Mas vejo uma luz, um sol, uma estrela
Lua cheia, cheia de vida
Que me desperta e me abraça
Irrompe em meu coração
E aperta e liberta
E aquece e completa
Os sentimentos transbordam
E as palavras ditas brotam
Todo o esforço do grito
Agora parece vão
Versos, cálidos bólidos
Fluem com a respiração
Não me pergunta nada
Mas simplesmente falo
Calo às avessas
Conto o que eu nunca senti