domingo, 15 de agosto de 2010

Por Baixo da Porta

De repente, um vento de esperança passa ao seu lado. Era o carteiro que lhe tinha deixado um envelope por baixo da porta. Apressou-se em abri-lo sem deixar de notar que não havia remetente. Àquela altura era possível haver alguém que lhe admirasse anonimamente? Era apenas um engano? Será que alguém já o bservava e estava apenas esperando o momento ideal pra se manifestar? Também já não é mais costume escrever cartas. Por que não um e-mail? O momento da entrega da carta teria sido calculado? Suas mãos tremiam enquanto tentava abrir o envelope com cuidado para não rasgar o conteúdo. Percebeu que havia um bom volume, pois o papel estava dobrado em algumas vezes. Seria um simples cuidado para que terceiros não pudessem ver o conteúdo? Ou realmente havia muita coisa escrita? Quem poderia ter tanto pra lhe dizer? Tantas e tantas vezes ele esperou um sorriso ou um simples aceno e só agora alguém lhe notara? Enquanto desdobrava o papel olhou de relance para o envelope agora jogado no chão e sentiu algo muito estranho. Parecia algum lampejo de felicidade por ter recebido a carta. Ao mesmo tempo estava decepcionado e até um pouco irritado por isso não ter acontecido antes. Por um instante pensou em não abrir e deixar tudo como estava. Valeria a pena arriscar uma surpresa daquelas? Talvez fosse melhor ignorar esse incidente e deixar tudo como estava nos planos. Mas as horas por que passava não lhe minimizaram a curiosidade e ele abriu o papel. Triste cena, pobre homem! A revelação da sua vida. O resumo da sua obra. O papel estava em branco! Não tinha mais perguntas. Tudo chegou a seu termo. O silêncio pálido daquele papel era a prova cabal de que viveu coerentemente com o seu destino e com seu espírito. Ao invés de qualquer outro sentimento, sentiu paz. A luz parecia ganhar intensidade e se espalhar por todo o ambiente e uma serenidade sem par lhe tomou por completo. Abriu um largo sorriso enquanto o vermelho que escorria do seu pulso engoliu a brancura e o papel repousou ao lado de sua mão aberta, de seu braço estendido.

sábado, 7 de agosto de 2010

Caminho

Não sei o que vejo
Sinto tanto desejo
Meu sonho não é mais o mesmo
Parei de andar a esmo
Sinto a luz que me acende
Ascende, afaga e entende
Suaves pétalas que abraçam
Aos poucos, nós desembaraçam
Extingue a dor que despedaça
Arranca de vez a mordaça
Paixão que embebe os sentidos
Norteia e deixa perdido
Luz áurea que entorpece
Aura que envolve e aquece.