Afaga, afaga e afoga a tristeza que adormece estendida.
Consola, consola e isola no peito a mágoa escondida.
Invoca, invoca e toca essa canção sofrida.
Canta, canta e arranca da garganta a ferida.
Três dias de festa, três noites de luar,
Quatro dias perdido, semanas a vagar.
Tantas horas se passam sem relógio a bater,
São os sinos do vento com a água a correr.
Doce sombra de mangueira em flor ao sol do meio-dia,
Correm fátuas nuvens de verão compondo fantasia.
Chove, chove pequenos sois entre as folhagens,
Rio de luz tensa se esgueira transbordando suas margens.
domingo, 2 de setembro de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Longe Perto
Longe...
Longe perto
Perto do deserto
Tão vazio e certo
Desperto no mesmo instante
Distante de todo agora
Hora após hora sem sono
Sonoro silêncio do ser
Ser não mais inteiro
Tinteiro sem pena e papel
Dossel nebuloso e triste
Existe tamanha aflição
Ficção das noites loquazes
Quase que agarra os desejos
Dez beijos na fronte
Horizonte fugidio
Esguio, desfia seus cheiros
Cativeiros em doces plumas
Bruma, peito orvalhado
Rosto suado, sentido, sem tino
Destino o pensamento ao vento
Intento, no entanto, malogrado
Calado, em paz e agonia
Mania de felicidade
Cidade só
Só saudade!
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Esvaindo...
Estou
com fome! Ainda bem que deixei comida pronta. Quando chegar em casa
boto no microondas e pronto. Enquanto isso, tomo um banho quente. Estou
exausta! Graças a deus não trabalho amanhã. Vou poder descansar um
pouco. Nossa! Já são quase onze da noite e esse ônibus não anda...
Finalmente! Quando vou poder comprar um carro pra me livrar disso? Ter
que aprender a dirigir vai ser terrível!
E
assim ela desceu do ônibus e caminhou como de costume em direção à sua
casa. Tudo como sempre, até que algo estranho a despertou daquela
rotina. Não sabia exatamente o que era. Uma sensação esquisita. Olhou
várias vezes para trás procurando se havia alguém lhe seguindo. A rua
estava deserta. Na verdade, preferia que tivesse alguém, não lhe
seguindo, mas alguém. Tentou voltar aos seu pensamentos normais. “Esses
saltos me matam!” Mas agora sentia medo. Percebeu com espanto que seu
coração estava mais acelerado que o normal. Pequenos pontos começaram a
brilhar em seu rosto. Transpirava, mas não sentia calor. Sentiu que
deveria apressar o passo. Quase pôde ouvir outros passos. Suas pernas
tremeram e seu estômago encolheu, fazendo com que involuntariamente
diminuísse o ritmo da caminhada. Estava ficando doente? Mas... doente de
quê? Estava alucinando? Não! Tinha certeza que algo de mal se
aproximava dela. Como num pesadelo, tentava andar mais rápido, mas suas
pernas ficavam cada vez mais pesadas. Ofegava pelo esforço. Pensou em
telefonar para alguém, para a polícia, mas suas mãos já estavam ocupadas
apoiadas nos muros para ajudar a andar. Já não enxergava com tanta
clareza. Uma manto pesado, escuro e denso parecia ter se derramado sobre
ela, enquanto se debatia para não sufocar. O que queriam dela? Por que
esperavam? Por que se escondiam? Ela já era um alvo fácil demais e ainda
não tinha sido abordada. Não olhava mais pra trás porque tinha certeza
que seja lá quem ou o que fosse poderia alcançá-la a qualquer momento.
Teve a impressão de ouvir sussurros e parou na esquina seguinte para
tirar os sapatos. Ficou estarrecida e ainda mais aflita quando percebeu
que de alguma forma pegou o caminho errado. Como era possível?! Não
entrou em nenhuma rua diferente, mas definitivamente daquela esquina em
diante não era o caminho de sua casa. Agora ela já recusava
terminantemente olhar para trás. O que fazer? Esperar? Como chegar em
casa por essas ruas que ela nunca viu? Seu corpo, cada vez mais pesado e
invertebrado não quer se mover. Não tinha mais forças. A escuridão
aumentava e ela sentia como se escorresse pelo ralo. Desmanchava-se como
manteiga ao calor. Fez-se em mil pedaços quando algo pareceu cair sobre
ela. Sentiu-se fragmentada e espalhada, cacos de todas as formas,
irregulares. Podia sentir o espaço entre cada pedaço e sabia que cada um
deles era ela. Foi soprada para alguma direção que não podia mais ver.
Juntaram-se-lhe mil outros pedaços e ela já não sabia mais quem era,
quantos eram, o que é ser. Não era mais. Não tinha mais peso, não tinha
mais medo, não tinha mais dor, não tinha nada. Não tinha sequer o vazio,
a solidão ou qualquer necessidade explicação ou justificação. Ela não
era mais, não estava mais, não pensava mais, não se sabia mais.
Apenas... sabia!
domingo, 1 de janeiro de 2012
Crepúsculo Infinito
Teu murmúrio será meu abrigo
Ouvirei teu movimento desesperado
Acalmar o silêncio que está comigo
E despertar o grito silenciado
Sentirei o cheiro do voraz castigo
Que fez o sangue sujo ser lavado
As águas do teu frio lamento
Escorrerão para o céu fechado
Abrirão sem usar argumento
As paredes que sobem ao teu lado
Queimarão toda a dor do pensamento
Que faz descer a lágrima do rosto angustiado
Vamos respirar a luz que cobre o futuro
E descobrir que o destino não está marcado
Vamos abrir as portas do escuro
E sentir o brilho ecoar por todo lado
Quebrar o teto do nosso casulo
E soltar o medo que está no peito cravado
(1991)
Ouvirei teu movimento desesperado
Acalmar o silêncio que está comigo
E despertar o grito silenciado
Sentirei o cheiro do voraz castigo
Que fez o sangue sujo ser lavado
As águas do teu frio lamento
Escorrerão para o céu fechado
Abrirão sem usar argumento
As paredes que sobem ao teu lado
Queimarão toda a dor do pensamento
Que faz descer a lágrima do rosto angustiado
Vamos respirar a luz que cobre o futuro
E descobrir que o destino não está marcado
Vamos abrir as portas do escuro
E sentir o brilho ecoar por todo lado
Quebrar o teto do nosso casulo
E soltar o medo que está no peito cravado
(1991)
Assinar:
Postagens (Atom)