quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Anoitecendo

A noite acorda sonolenta
Traz os olhos rasos d’água
Levanta triste e quente
Pronta pra chover
A menina apressa o passo
Outra vez quer tentar escapar
O incauto afrouxa sua gravata
Enquanto espera a sua vez
Perto dali, longe e indiferente
O senhor enxuga a testa
Está pesado e contente
Seu banquete ainda vai durar
Ninguém reclama das luzes ácidas
Que querem impedir a noite entrar
Ela se ergue e se estende
Abafando cores e lamentos
O profeta hasteia seu arpão
E o louco grita de terror
Calam solenes as ruas
O céu desaba a conta-gotas
Numa melodia suave e constante
Condoída e sorridente
As hostes de sedentos ululam
Trôpegos, amigáveis, virulentos
Ganidos e sussurros vagueiam
Pecados e mendigos despertam
A noite socorre e alenta
Quem já não tem inocência
Desnuda e santifica
Quem sobreviveu nos escombros
Suave e cortante
Sua pena é fatal

Um comentário:

franzé matos disse...

Muito boa essa poesia! A seu jogo com as palavras muito me atrai. Foi bom vc me lembrar do seu blog... pq é tanto bombardeio de infiormação que acabo esquecendo de visitar!